A iniciativa visa abrir espaços de formação a partir de movimentos sociais.
Durante o Fórum Social Mundial de 2003, ocorrido em Porto Alegre (RS), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos apresentou um proposta que se tornaria referência da união entre a academia e os movimentos sociais. Tratava-se da iniciativa Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) que, passados 16 anos, encontra-se em várias localidades ao redor do planeta, tão diferentes quanto o Saara Ocidental, no norte da África, e a Maré, no Rio de Janeiro.
Pela primeira vez a Amazônia poderá sediar uma das oficinas da UPMS para, a partir daí, dar início à gestão da Universidade Popular dedicada à formação sociocultural de acadêmicos e ativistas dos diversos movimentos sociais que compõem a região amazônica.
O primeiro passo da Ueap nessa direção foi além-mar. Neste mês de junho, a docente Dra. Janaína Calado, da pró-reitoria de extensão (Proext), foi em visita à Universidade de Coimbra, em Portugal, participar do Ciclo de Aulas Magistrais, onde pode expor a possibilidade de integrar o Amapá à UPMS, no que seria a primeira inserção de uma região da Amazônia ao projeto.
A ECOLOGIA DOS SABERES - “O professor Boaventura questiona a própria lógica da formação hierárquica da Universidade, nesse contexto ele considera que os movimentos sociais seriam um bom lugar para se transmitir o conhecimento de forma diferente, mais transversal”, explicou Janaína Calado sobre o conceito central que Boaventura utiliza para guiar as UPMS, que se chama Ecologia dos Saberes, isto é, a integração de práticas e saberes dos mais diversos grupos sociais considerados minoritários, tais como indígenas, quilombolas e trabalhadores sem terra.
A ideia, a partir disto, é o desenvolvimento de uma oficina inaugural da UPMS no Estado, a partir de onde se fixará um memorial UPMS e um ponto de encontro para novas oficinas. Janaína Calado recorda que a necessidade de se unir à UPMS surgiu durante os encontros do Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA): “compreenderam que a oficina de UPMS poderia unir movimentos em torno de causas comuns pois, no fim, todos os movimentos sociais buscam por igualdade. Queremos articular e promover essa oficina porque compreendemos que essa seja a oportunidade de cada movimento se ver, se identificar e unir causas comuns”.
A organização da UPMS no Amapá é uma iniciativa do Fórum Social Pan-Amazônico/Comitê Amapá (FOSPA/AP), em parceria com a Universidade Federal do Amapá (Unifap), Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES-UC/Projeto Alice) e Ueap.